Certo dia, navegando pela internet me deparei com uma matéria
que relatava o temor de membros da Academia de Ciências Médicas do Reino Unido
de que pesquisas genéticas em animais (sobretudo as que envolvem transplantes
de células humanas em símios), produzam animais que apresentem capacidades
cognitivas humanas e características como a fala. Curiosamente, a premissa de
Planeta dos Macacos: A Origem (Rise of the Planet of the Apes) é exatamente
essa: macacos de laboratório, utilizados como cobaias em testes para cura do Alzheimer,
desenvolvem capacidades, trejeitos humanos e, posteriormente, a fala.
Essa discussão ética, sobre até que ponto o homem deve
explorar os animais no intuito de progredir no campo da saúde é, certamente, o
ponto mais intrigante do filme, pois ao mesmo tempo em que o espectador se compadece
pela busca desesperada de Will Rodman (James Franco) pela cura do Alzheimer, uma vez que seu pai se encontra num estágio avançado da doença, é impossível deixar de entender o lado de César, cujas características tão humanas não nos
deixam enxergá-lo completamente como um animal. Até que ponto é permissível
manter um ser capaz de pensar em um cativeiro?
Após surpreender a todos com sua interpretação do Gollum, na
trilogia O Senhor dos Anéis, Andy Serkis encarou novamente o desafio de
interpretar um personagem completamente digital e se saiu muito bem. É ele quem
interpreta César, cuja mãe foi o primeiro chimpanzé de laboratório a demonstrar
boa aceitação à droga teste para o Alzheimer. A substância ministrada na mãe
alterou genética de César, que já nasceu intelectualmente superior aos outros
macacos. Serkis soube dosar as características humanizadas de César, com
lampejos de sua fúria, uma vez que, apesar de suas características, César ainda
é um animal, deixando uma dúvida incessante ao espectador, que não sabe se sente
medo ou compaixão pelo personagem na tela.
Em alta no momento, após o sucesso de 127 Horas, James
Franco conduz bem o filme, juntamente com John
Lithgow, que interpreta seu pai e protagoniza boas cenas, como aquela em
que entra no carro do vizinho, pensando ser seu, num momento em que é traído pela
memória, cada vez mais consumida por sua doença degenerativa.
Planeta dos Macacos: A Origem é certamente um ótimo filme e
deixa no ar diversas pontas soltas para as futuras continuações que, se
seguirem o caminho do primeiro, certamente serão imperdíveis.
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